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Espaço do autor: Araken Vaz Galvão

                                                                                                                                                                                         


                                          Araken Vaz Galvão




Araken Vaz Galvão nasceu em 20 de maio de 1936 na cidade de Jequié, Bahia. Ainda muito jovem sua família muda-se para o Rio de Janeiro, onde, ao prestar serviço militar, permanece no Exército, em 1956, depois de cursar uma escola militar, é promovido a sargento, iniciando, dessa forma uma forte militância política em defesa das riquezas minerais do país, e das empresas nacionais. Com o golpe de 1964 é expulso do Exército e, como outros companheiros militares, participa do primeiro movimento armado com a ditadura – a Guerrilha do Caparaó –, com a prisão do seu grupo, depois de julgado e condenado, foge da prisão e asila-se no Uruguai, onde inicia a estudar literatura, cinema e História. De volta ao Brasil, depois da anistia, começa a escrever, sendo autor de vasta obra – parte já publicada e parte não – entre essas cabe citar: Crônica de uma Família Sertaneja, romance, publicado pela Superintendência de Cultura, em 2004, Secretaria de Turismo e Cultura do Estado da Bahia; Valenciando – I Antologia (organizou) de escritores de Valença: livro publicado pela Superintendência de Cultura, Secretaria de Turismo e Cultura do Estado da Bahia; Rio de Letras – II Antologia (organizou) de escritores de Valença: livro publicado pela Superintendência de Cultura, Secretaria de Turismo e Cultura do Estado da Bahia; Pargo e outras histórias – contos, coletânea de organizada e publicada pelo autor; Saga de um Menino do Sertão – romance (II Tomo da Trilogia Sertaneja); Acalanto Tardio – Infanto-juvenil; Crônicas das Prisões e do Exílio – Memórias; Crônicas – crônicas; Histórias Sertanejas (III Tomo da trilogia sertaneja); O Sargento na História do Brasil – memórias/ensaios; Pequena História do Cinema – Um Novo Olhar – ensaio; Trilogia “Memorial da Angústia”, composta de: Sonata em Dor Maior, Em Busca do Esquecimento e por Causa de Lucía – Romances; Quem Matou a Garota do Outdoor – Policial; O Crime das Ligas – Policial; Morte ao Entardecer – Policial; Gramática do Crime – Policial. (A novela policial “Quem Matou a Garota do Outdoor” foi adaptada para cinema por Carlos Nascimbendi, de São Paulo); O Tupi Nosso de Cada Dia – Estudo sobre a presença do idioma indígena no português falado no Brasil. “O Jegue, um dos seus contos, é publicado na coleção “Todas as Estações – Segundo Livro” – antologia de contos, editora da Fundação Peirópolis, São Paulo, SP. É membro da ALER – Academia de Letras do Recôncavo. Em conjunto com alguns escritores da cidade, no ano seguinte faz parte do grupo de escritores que funda a AVELA – Academia Valenciana de Educação Letras e Artes –, tendo sido seu presidente. É membro da UBE – União Brasileira de Escritores.           
             
 (Esse conto faz arte do livro “A Trama Esgarçada e outras pequenas histórias”)

                         

Cinema, vida e paixão
A paixão de Araken Vaz Galvão por cinema marcou a sua vida,
por isso ele não é apenas um cinéfilo, foi também cineasta, mas principalmente
um apreciador estudioso dessa arte, que junto com a literatura,
ajudou não só a forjar seu caráter, mas a iluminar sua vida de
beleza e significados. Esta obra composta por Ensaios (ou quase) não
é sobre cinema, mas sobre seus gêneros prediletos, com destaque para
o western, incontestavelmente seu gênero favorito – e o meu também.
Dividido em quatro partes, o western e sua vertente made Italy ocupam
dois terços do livro e a maioria das referências.
Vaz Galvão nos apresenta o cinema Noir e o neo-realismo italiano
sob uma ótica única e pessoal, suas considerações trazem um olhar
original sobre os gêneros, mas o grande protagonista deste livro é sem
dúvida o faroeste. Concordo com o autor ao afirmar que o faroeste é
inesquecível, pois faz parte da formação cinematográfica de gerações,
e ouso dizer que também da formação do caráter, mesmo que inspirado
em estereótipos de ´mocinhos’ contra ‘bandidos’ e ‘índios’, no
tempo em que o cinema não era politicamente correto e sequer se falava
em direito das minorias étnicas. O Velho Oeste americano, cenário
da maioria dos clássicos do gênero, está cada vez mais distante das
telas do cinema e da TV, apesar das revisitações e revisões temáticas,
já politicamente coadunadas ao ideário das últimas três ou quatro décadas,
ampliando o numero dos afeiçoados pelo gênero.
O western é também uma das minhas paixões, e ajudou a embalar
os primeiros sonhos românticos. Diferentemente de outras meninas
da minha época, não ansiava pelo ‘príncipe encantado’ dos contos de
fadas ou pelos cantores da jovem guarda, mas pelo destemido cowboy
dos faroestes, que salvava a ‘mocinha’, e mesmo meio bronco tinha
uma pegada de dar inveja no Rhett Butler de ‘E o vento levou...’, que
obviamente não é um western.
Araken Vaz Galvão refere-se a seu livro como um opúsculo, modéstia
de autor, mentira de contador de histórias. Este livro é uma
obra densa, meticulosa, pessoal: uma viagem monumental, no tempo
e na memória, mas que se parece com aquela sequência da vista da
porta se abrindo para a imensidão do deserto, que tantos diretores –
depois de John Ford, em ‘Rastros de Ódio’ – utilizaram em seus filmes
para mostrar a pequenez e a fragilidade do homem do oeste, desbravador,
mas também vítima de tanta vastidão territorial.
Este livro vem preencher uma lacuna no cenário da crítica
cinematográfica brasileira, e da disponível em português, pois além
de discorrer sobre o cinema noir e o neo-realismo italiano, dedica-se
ao western, com rara maestria. É uma obra única, ao mesmo tempo
completa e parcial. Explico: completa, pois apesar de não abarcar a
totalidade dos filmes do gênero, trata dos principais filmes, diretores
e atores que consagraram o western, abrangendo um longo período
de tempo da história do cinema, e da vida do autor. E é parcial, por
que traz uma visão única de um expectador crítico e voraz, um olhar
inteligente e divertido, leve e sarcástico sobre filmes imperdíveis e
outros nem tanto, atores maravilhosos e alguns canastrões, diretores
e roteiristas sublimes e outros tão previsíveis... Nada escapa ao olhar
de Vaz Galvão, sua ironia, as informações de pé de página’ sobre as
contradições seja de cunho político, ideológico, religioso, sexual dos
bastidores da indústria do cinema.
Quando Araken discorre sobre os diretores, de Ford e Hawks a
Clint Eastwood, temos uma lição de cinema , pitoresca, viva, dinâmica.
Vaz Galvão fala do surgimento, do auge e da decadência do faroeste,
no sentido clássico, e dos novos e transgressores westerns que
reinventaram um Velho Oeste diferente, mais próximo da realidade
histórica e também de uma estética atual.
Vaz Galvão traz olhares inéditos sobre algumas temáticas dos filmes
analisados, como a questão das mulheres e da violência – principalmente
sexual – que elas sofriam e que os filmes silenciavam e
mascaravam até o momento em que o cinema assumiu a crítica à idealização
da conquista do oeste pelo homem branco, as caravanas e as
ferrovias, que por décadas foi o mote dos faroestes. Mas a temática,
mais do que as paisagens, persiste. Como os Sete Magníficos foi um
western inspirado em Os Sete Samurais, encontramos hoje westerns
futuristas, urbanos, de ficção científica, numa interpenetração de gêneros
que indicam que se o Velho Oeste não é mais tão inspirador
de outras fronteiras se abrem aos novos desbravadores. Mas isso não
está no livro. No livro está o faroeste, e se o Velho Oeste americano
é o cenário, ele é visto por olhares vários, de diretores e roteiristas de
tantas nacionalidades, que tornaram o western um gênero universal: a
eterna luta entre o bem e o mal, a luz e a escuridão. O western é quase
sempre um filme sobre o sol, a solidão, a solidariedade e a noite,
o medo e a morte, sobre a condição humana em situações extremas.
Seus ensaios sobre o filme noir trazem uma contribuição importante
para a análise do gênero, curiosidades e ‘sacadas’ que nos fazem
querer ir correndo a locadora ver ou rever aquele filme. Sobre o neo-realismo
italiano, movimento único no cinema do século XX, que
inspirou e inspira ainda hoje tantos cineastas, Vaz Galvão tece uma
análise refinada. O ‘cinema novo’ brasileiro deve muito ao cinema italiano
pós-segunda guerra e ainda hoje é referência obrigatória a quem
pretende iniciar-se na sétima arte, ainda que como amante diletante.
Este é um livro para ler e reler, consultar, discordar, comentar...
fazer e refazer a sua própria lista de melhores filmes... aqueles inesquecíveis.
Quem gosta da sétima arte, independente de ser fã ou não
de western, do noir ou do neo-realismo, vai gostar muito da leitura do livro.
Lendo e relendo senti vontade de ver e rever vários filmes, revivê-los, reinterpretá-los.
Oxalá, Vaz Galvão se aventure a escrever mais sobre o cinema, sobre
atores e atrizes, sobre roteiros e personagens, sobre esse patrimônio
cinematográfico da humanidade que captura em uma sala escura
nosso inconsciente, projeta sonhos, transforma a realidade, nos transforma
em outro, mais belo, mais heróico, mais forte, pelo menos até
que as luzes se acendam.

Lucília Augusta Lino de Paula
Novembro de 2012


Mais um sucesso da Pimenta Malagueta Editora



           











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